sábado, 27 de março de 2010

Conto: A Churrascaria (parte I)

A Churrascaria

Telma e Adilson estavam se beijando pela quinta vez no banco de trás, e pela quinta vez o pai de Telma pigarreou forte, olhando nervoso pelo retrovisor do carro. Elza era a mãe de Telma, sentada do lado do passageiro, e sorriu ao observar o marido apertar forte o volante do carro.

- Calma, benhê, eles não estão fazendo nada demais.

Jorge ficou quieto. Telma e Adilson tentaram se conter e cada um olhou para o seu lado na janela do sedã, enquanto passavam pela rodovia movimentada em direção à capital. Os caminhões eram ultrapassados e na pista contrária os veículos passavam zunindo causando um efeito letárgico em Adilson, que segurava forte a mão de sua namorada, sentado do lado esquerdo do automóvel.

Assim que o pai de Telma tornou a se distrair com a rodovia, Adilson puxou Telma para si e voltaram a se beijar lânguidamente, trocando saliva, Adilson explorando a boca doce de sua namorada enquanto sua mão sorrateiramente deslizava sobre as coxas da garota de apenas dezoito anos.

Mais uma ultrapassagem e Jorge olhou pelo retrovisor e novamente viu o casal trocando amor. Ficou irritado. Olhou o relógio do carro no painel: onze horas.
Viu o anúncio de uma famosa churrascaria cerca de dez quilômetros adiante.
- Elza, vamos parar na El Corazon, já estou com fome.
- Benhê, falta uma hora pro meio-dia. Porque parar tão cedo?
- Não tem mais nenhum restaurante bom na estrada até a capital. E estou cansado de dirigir. Vamos parar, já decidi.

Jorge deu seta e entrou na via de acesso ao posto e a churrascaria de estrada, bastante conhecida, cheia de caminhões, ônibus e carros estacionados. Achou um canto para estacionar o sedã e logo estavam descendo, Jorge grato por esticar as pernas e tentar separar um pouco aquele casal, raivoso por achar que sua filha estava no cio.

Adilson não desgrudou da namorada. Ambos não tiravam os olhos um do outro, abraçados, enquanto entravam na lotada, mesmo às onze horas da manhã, churrascaria rodízio.

Sentaram-se em uma mesa perto do bufê de saladas. Jorge limpou seus talheres com o guardanapo de pano. Observou sua filha, através dos grossos óculos de aro de tartaruga: uma linda jovem de seios como pêras e curvas audasiosas e sentiu raiva por ela já ser uma mulher. Ele a preferia como uma menina ingênua que fora há alguns anos, e não como aquela garota maliciosa que não soltava do namorado estúpido que arrumara.

“Eu vou fazer Comunicação. Vou ser jornalista”

“Jornalista o cacete” – Jorge olhava com ódio o rapaz de risada fácil. “Nem escrever direito você sabe, e quer ficar com a minha filha?”

O garçom aproximou-se:
- Desculpe, senhor – disse à Jorge – o rodízio vai atrasar um pouco, coisa de uns vinte minutos, não esperávamos estar lotados logo cedo. Posso trazer as bebidas? Aconselho um passeio pelo nosso jardim nos fundos enquanto esperam. Uma cervejinha, senhor?

Jorge ficou ainda mais irritado, mas Elza e seu sorriso bondoso fizeram com que se acalmasse. Bufou.
- Traga uma Hervage bem gelada, o que vão pedir?
- Pai – Telma fez cara de anjo – eu e o Di vamos dar um passeio no jardim e já voltamos.
- Isso, papai, pede um suco de laranja para ela e para mim uma Cola light.
Ao ouvir Adilson, Jorge só não espumou porque Elza o deteve.
- Querido, deixa os pombinhos passearem e vamos relaxar um pouco, tá?

Telma e Adilson saíram pelos fundos caminhar nos belos jardins. O cheiro de carne se sobrepunha ao da vegetação, o que não era muito agradável.
- Vem – puxou Adilson – vamos até aqueles calips.
- Eucaliptos, ‘mor. Você vai ter de melhorar o português para estudar Comunicação e Jornalismo.
- Tanto faz. Vamos.
Passaram pelo belo bosque de eucaliptos e araucárias angustifólias e adentraram a vegetação cada vez mais densa até uma pequena cabana de paredes de taipa e teto de sapé.
- Aqui, vem. Ninguém vai nos ver atrás da cabana.
Trocaram beijos densos e molhados. A mão de Adilson deslizou pela bunda em forma de coração de Telma.
- Para, alguém pode vir aqui.
- Não vem, não. Seu pai ficou lá bebendo cerveja com sua mãe.
Beijaram-se mais com Adilson explorando o corpo da garota.
- Tel... Faz uma coisa...
- Já disse que quero ficar virgem até casar. Meu pai é muito bravo.
- Não é isso. Porque você não ... – E cochichou no ouvido da menina-mulher.
- Ah, Di! Eu... Eu acho que nem sentiria prazer fazendo isso. Tenho nojo.
- Mas você vai me levar à nuvens, vai me dar muito prazer, e eu sou limpinho.
Telma sorriu maliciosa. Porque não? Decidiu que seria divertido. Ajoelhou-se diante dele, na folhagem, atrás da cabana. Abaixou seu ziper, mas antes, lhe disse:
- Não vá terminar na minha boca que eu morro de nojo, tá?

Fazia o trabalho, sentindo mais prazer em dar prazer ao seu namorado, que arfafa e estremecia, do que a si mesma, mesmo assim estava bem molhada, mas não tirara uma peça de roupa sequer, não tinha coragem, embora desejasse.
Então parou e tirou o instrumento da boca.
- Não, não para, Tel, não para, por favor!
- Escuta, Di, tem alguém gemendo!
Adilson ficou meio impaciente mas ouviu o gemido de mulher.
- Tem sim. Será que é alguém transando?
- Não, seu tonto. Só pensa bobagens! Parece que a pessoa tá gemendo de dor.
Adilson vestiu-se e Telma levantou-se e foram mais dentro da mata. Os gemidos ficaram mais fortes, assim como o bater do coração de ambos.

(Continua....)

Um comentário:

  1. Olá Vitão.

    Agora entendi porque conto Picante de churrascaria...risos, eu tinha pensado em picanha, o que dá no mesmo... O velho estilo de suspense e prosa naturalista, bem naturalista. Gostei, agora falta ver o que tem no mato.

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